Sobre (se) perder

Quando se é criança você costuma ter certeza do que quer ser, do que quer construir e acredita – cegamente – nisso. Você acredita em si mesmo e acredita mais ainda nas pessoas. O homo sapiens é realmente sábio. O padre é fielmente bondoso e compassivo; e sua família? Ah! Ninguém tem uma família tão boa quanto a sua.

Então você cresce. Começa a entender os filmes da tela quente, quer mostrar pra menina da escola que você já é bom em beijar, se sente o dono da verdade e vê que todo muro tem suas fendas. “Que muro?” você começa a se perguntar enquanto listas imensas das respostas começam a aparecer: O muro da família, o muro do amor, o muro da verdade e, acima de todos esses, o seu próprio muro.

Você se acha forte, mas por vezes se viu caído. Tentou levantar, mas não encontrou nenhuma mão para te ajudar. Mas espere... não faz sentido! “Por que meus pais se separaram? Por que tentei fugir? Por que faço qualquer coisa pra ficar fora de mim?”. Começa a ver que atrás de cada verdade há uma ideologia. Procura alguma razão para seus atos e vê que esta não existe. É confuso, é dolorido; machuca. Eu sei como é.

A gente tem fé por tanto tempo e depois, desse mesmo tempo, a gente não tem mais nada. Não há dor, não há nada e isso assusta a gente. “Quanta gente!” Gente que é tratada como lixo ou até com alguma dignidade – depende da moeda. Cara ou coroa.

Qual o seu lado da moeda? Virar adulto até parece doideira. Eu to ficando louco! To cansado de trabalhar! Meu patrão anda de Mercedes e eu acabo é lá no bar... da esquina. E, num dia desses, perdi minha carteira, com os meus documentos, perdi minha sanidade e até a chave do apartamento. Acho que bebi demais e foi por isso que perdi. Desculpa diária. É.

E, sabe, a gente cresce e perde o RG, perde a identidade... a gente se perde todo e é difícil, muito difícil, se encontrar de novo.

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