Esportes Radicais

Hoje choveu a cântaros
como há muito não chovia.
Depois do almoço,
andei pela rua.

Fui ao banco pagar dívidas.
Esta tem sido,
ultimamente,
minha única literatura.

Na pressa de escapar da chuva,
por pouco não perdi
a mais inspiradora das cenas:
se a perdesse, não me perdoaria.
Com ela, ganhei meu dia.

Um casal
( ele era um homem forte,
e aparentemente muito pobre,
desses que constroem o Brasil
e mofam em barracos;
e ela
era uma mulher de mais de trinta,
nem um pouco bonita,
mas de uma feirua viril,
de quem não deve um centavo a ninguém,
de quem paga suas contas em dia… ),
um casal, como eu dizia,
caminhava sob a chuva,
quase rente ao meio-feio ( que,
em outras cidades do Brasil,
é elengantemente chamado de guia… ),
enquanto os carros passavam
respingando água suja.

A mulher, resolutamente,
empunhava o guarda-chuva,
que menos protegia a ela que ao marido.
E assim, a mulher tão feia,
de uma feiúra tão sofrida,
estranhamente brasileira,
pareceu pouco a pouco mais bonita.

A ela eu cantaria o hino nacional,
se o soubesse inteiro.

Mas eu só sabia ( “de cór”… ) “Help”, dos Beatles.


Roberto Navarro.
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