Um método para se autoconhecer


Entendendo que o conhecimento pessoal é indispensável para toda e qualquer pessoa, a dialética da interioridade agostiniana surge como um fator ou método que possibilita ao homem, conhecer-se a si mesmo, mergulhando no seu universo interior. Neste contexto, também a Bíblia é apresentada como um caminho eficaz que conduz o ser humano a um processo de evolução entre o homem externo e o interno.

O ser humano moderno vive num mundo voltado inteiramente para aquilo que se encontra fora de si. As imagens, os sons, as cores, a tecnologia, as inovações da humanidade, conduzem o indivíduo a envolver-se diariamente com atividades múltiplas ao mesmo tempo. Neste contexto turbulento, falta tempo para cuidar de si, para perceber o que existe no seu mundo interior. Nesta perspectiva, queremos citar o filósofo Agostinho de Hipona que no século IV, apresentou a dialética da interioridade como método para o auto conhecimento.

A dialética da interioridade agostiniana é identificada como método para encontrar respostas para as inquietações pertinentes à pessoa humana, segundo a experiência vivida por Agostinho. O ponto central desse processo, parte do retorno a si próprio, que resume-se na própria interioridade, que é verdadeiramente o abrir-se à realidade da verdade e a Deus. É preciso chegar e fazer morada no mais íntimo e escondido centro do eu, para encontrar algo além de si mesmo, reconhecido como transcendência. Essa teoria fundamenta-se no não sair de si mesmo, mas, faz-se necessário voltar para dentro de si, pois a Verdade habita no interior do humano.

O princípio da interioridade será portanto, uma conquista da transcendência sobre o materialismo maniqueu. Na busca desta interioridade, que transcende a si mesmo e se abre a Deus como única verdade, a dialética é reconhecida em três movimentos: O primeiro se expressa no dizer, “não saias de ti”, que traz presente o afastamento do mundo, o não fugir da realidade interior que o próprio homem traz em si. O segundo revela o anseio de introversão “volta para dentro de ti mesmo”, esse denota uma evidente complementação do anterior, pois é preciso ficar em si, para prosseguir conseqüentemente à volta, o retorno para o mundo interior. Entende-se que o centro de tudo, está no interior de toda pessoa.

Já o terceiro e último movimento, ultrapassa essa realidade do eu, que significa “ir além de si mesmo”, atingindo a transcendência. Esse passo é entendido como a culminância do processo vivido por Agostinho, o sonho torna-se realidade. Dar este salto, significa ousar, quebrar limites, arriscar, acreditar na força, na capacidade interior e conhecer outros espaços.

Nesta mesma dimensão, outro destaque é atribuído à pessoa que se alimenta interiormente da palavra de Deus. Mediante a essa realidade, logo terá mais possibilidade de olhar para o seu interior, do que buscar no deserto da vida a solução para a sua existência. Entretanto, esse alimentar-se, apresenta-se como um caminho rumo à verdade transcendental, onde a verdade encontrada não só será uma simples projeção da consciência humana mas, uma realidade objetivada e alcançada no acesso ao ser Superior que habita o interior da humano.

É importante observarmos ainda, que o pensamento de Agostinho parece justificar-se cada vez mais, pela convicção de que no interior do próprio ser humano, podemos encontrar respostas para as inúmeras inquietações latentes, que tiram a tranqüilidade pessoal, refletida numa turbulência exterior. Nesta ótica, Agostinho viveu como um ser errante à procura de algo que saciasse sua sede de libertação interior. Movido por esse desejo, não mediu esforços, nem consequências, buscou respostas fora de si, mas, só se saciou quando voltou para si mesmo, para o seu universo interior, para dentro de si, espaço este, só habitável por quem o pertence. Assim, por mais que as teorias e doutrinas apresentadas fossem de caráter persuasivo, mesmo assim, não conseguiram trazer resposta, paz, felicidade à inquietação existencial de Agostinho.

Com o filósofo Agostinho de Hipona, a humanidade adquire o sentido da intimidade, o sentido do que sou realmente, o ser humano interior na dimensão de quem sou eu. A dialética da interioridade agostiniana traz em si, uma visão nova da realidade no estilo de fazer Filosofia e Teologia, propiciando a superação do ceticismo.


Maria dos Remédios Lima
Concluinte 2005 de Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cajazeiras -FAFIC, Cajazeiras PB.

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